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sábado, 7 de abril de 2012

McDonald's Brasil com sotaque portenho

Quem olha para o presidente do McDonald's Brasil, José Valledor, 44 anos, não imagina que este executivo falante, sorridente e entusiasmado seja um argentino que passou 20 anos da carreira no sisudo ramo financeiro da Arcos Dorados, a gigante argentina dona da marca McDonald's em 20 países da América Latina e Caribe, Brasil incluído. Valledor subiu do financeiro até o comando da divisão Sul da América Latina da Arcos - que inclui Argentina, Colômbia, Chile, Uruguai e Paraguai - e, desde agosto do ano passado, assumiu o leme da Divisão Brasil, uma divisão tão grande (50% do faturamento global da Arcos vêm daqui) que é simultaneamente uma diretoria e uma empresa: a McDonald's Brasil.
José Valledor entra na sala de reuniões da sede da Arcos Dorados no Brasil, um prédio de tijolinhos localizado na alameda Amazonas, em Alphaville - bairro que reúne grandes empresas e mansões em Barueri, na Grande São Paulo - e vai logo pedindo desculpas pelo português, que fala bem melhor do que imagina. É sua primeira entrevista para um órgão de imprensa brasileiro e ele está entusiasmado. Fala do fenômeno do enriquecimento brasileiro e o relaciona com o McDonald's, dando as pistas gerais do que a marca pretende fazer no Brasil nos próximos anos.
- O Brasil cresce com aumento de salários reais e a formação de uma nova classe média - diz ele, referindo-se ao conspícuo fenômeno da emergência das classes C e D - Nós somos um negócio "de" e "para" famílias, e a família é nosso melhor e maior cliente. As famílias desfrutam porque o McDonald's é inspirador em países como Brasil e China. É um certo símbolo de status. Então, o enriquecimento do país com o aumento de renda nos acena com oportunidades únicas.
Grupo aposta nas cidades de tamanho médio do país
Para o McDonald's isso significa um alvo claro: as cidades médias, aquelas com cerca de 80 mil habitantes, que se transformaram nos municípios que mais se desenvolvem no Brasil.
- São cerca de 350 municípios deste porte no país e nós estamos em apenas 150 - afirma ele. - Isso sem descuidar dos mercados maduros. Há um mês inauguramos um restaurante em Guarulhos, onde temos várias lojas, mas a fila antes da abertura tinha 150 metros.
Valledor diz que não pode comentar os planos - grandes planos - da marca para a Copa do Mundo (o McDonald's é um dos patrocinadores) de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Apenas afirma que há um ano um grupo especial e dedicado de executivos prepara todas as ações para os dois eventos nos escritórios da Arcos Dorados em São Paulo.
Mas ele comenta sobre os McCafés, as pequenas lojas de cafés de ambiente mais acolhedor, e promete novidades nesta área, bem como mais drive-thrus nas estradas, um local onde, curiosamente, há poucos restaurantes fora das periferias das grandes e médias cidades. São estratégias específicas de uma rede que sabe que concorre, por um lado, com os botequins de esquina e, de outro, com os restaurantes de fast-food e de slow-food.
- É concorrência para todos os lados e, ano passado, investimos USUSD 100 milhões - diz o executivo. - Abrimos 47 restaurantes. Este ano, serão pelo menos 50 novos restaurantes. Acho que este número será a nossa velocidade de cruzeiro para os próximos anos no Brasil.
Para tocar esses projetos, o McDonald's Brasil acaba de anunciar um plano de contratação de quatro mil empregados em todo o país. Eles se somarão aos 50 mil existentes, mantendo a posição da empresa como uma das maiores empregadoras do Brasil. Não há apagão de mão de obra nesta faixa, já que, para a maioria, o McDonald's é o seu primeiro emprego. O que não significa que não haja desafios. Afinal, a empresa investe RUSD 40 milhões todos os anos treinando essa gente para funções que vão de operadores de máquinas em cozinha a gerentes de lojas.
Boa parte da expansão será feita pela própria Arco Dorados ou pelos 63 empresários ou grupos empresariais que detêm hoje 170 franquias da marca McDonald's (entre 665 restaurantes).
- Não pretendemos aumentar os franqueados. São nossos parceiros fiéis, que conhecemos há muito tempo e que possuem a competência econômica necessária para investir - afirma ele, sobre os 63 sortudos eleitos.
Mas nada empolga mais o executivo argentino do que a provocação clássica: e fast-food é comida saúdável? Neste sentido, apesar das críticas, o McDonald's vem alterando seus cardápios na direção de comidas mais saudáveis e menos calóricas. Desde 2002, incorporou saladas aos menus. Em 2006, baniu o uso de gorduras e óleos trans. Em seguida, incorporou saladas e vegetais no McLanche Feliz, o preferido das crianças. Em outubro de 2011, a empresa se comprometeu a limitar a 600 calorias os McLanches e foram adicionadas frutas. No mesmo ano, baniu o sódio de pães, queijos e ketchup. Em todas as promoções, os clientes podem optar entre batatas fritas e saladas.
São ações benéficas que não chegam a transformar sanduíches em filés de atum grelhado, mas melhoram muito a pecha de fábrica de obesos que a marca tinha anos atrás.
- Não recuamos e ficamos nos defendendo das críticas sobre a qualidade dos alimentos - diz Valledor. - Fomos lá e modificamos os pratos, tornando-os mais saudáveis.
José Valledor trouxe a família - mulher e dois filhos gêmeos de 11 anos - em dezembro para o Brasil e o período é de adaptação. Mora num dos condomínios de Alphaville, perto do escritório. Acorda às 7h todos os dias, faz exercícios, toma café, leva as crianças à escola e às 8h30m está na sede da Arcos Dorados, de onde sai impreterivelmente às 18h. ("Eu estimulo que meus funcionários tenham vida própria"). No momento, devora "A biografia de Winston Churchill", ex-primeiro-ministro britânico. E estuda uma hora e meia por semana português:
- É o meu maior desafio.

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