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segunda-feira, 20 de maio de 2013

Demitido usa rescisão de R$ 12 mil para exportar chinelo 'quadrado'

Um calçado fora dos padrões tem feito o ex-
motorista de ônibus Moisés Dias Pena, 54,
ganhar espaço no varejo de calçados. Ao
todo, 15 lojas multimarcas no Brasil e mais
sete nos Estados Unidos e em Portugal
revendem o produto: o chinelo quadrado, que
apesar do nome, tem o formato retangular.
CORREÇÃO
Chinelos "quadrados" não foram
patenteados pelo empresário
Moisés Dias Pena
O calçado lembra o formato do tamanco
japonês, também conhecido como "geta",
feito de madeira. A diferença é que as peças
de Pena são feitas de borracha.
Pena montou a Kuatro Kantus, fabricante do
calçado, após ser demitido, e receber uma
indenização de cerca de R$ 12 mil.
Em agosto de 2011, enquanto estava parado
em um semáforo em frente ao shopping
Ibirapuera, na Zona Sul de São Paulo (SP), ele
viu uma mulher atravessar na faixa de
pedestres com os dedos saltando para fora da
sandália. Foi aí que surgiu a ideia do negócio.
"Pensei comigo mesmo que se ela estivesse
usando um chinelo com o bico quadrado
aquilo não aconteceria", diz Pena.
No dia seguinte, ele comprou um pedaço de
borracha e fez o primeiro modelo do chinelo.
A primeira a ver foi sua mulher, que
demonstrou certa desconfiança.
"Minha mulher me olhou e disse 'é esse
tribufu aí?' Pedi a ela para ter calma e
expliquei que era apenas um protótipo",
afirma o ex-motorista.
Durante quatro meses, Pena aproveitava os
dias de folga no trabalho para fazer melhorias
nos chinelos. Quando chegou ao produto que
considerava ideal, fez o pedido da patente no
INPI (Instituto Nacional da Propriedade
Industrial) e da marca, a Kuatro Kantos.
Segundo o advogado especialista em marcas e
patentes Marcelo Manoel Barbosa, o registro
de uma patente pode levar até dez anos para
ser concedido. "Nesse tempo, nada impede
que dois processos de registro de uma mesma
ideia sejam analisados simultaneamente. Ao
final, o INPI decidirá quem terá a patente
sobre o produto", diz.
Após fazer o pedido de registro, Pena
resolveu conferir se o consumidor aprovaria
ou não o produto. Ele foi ao centro da capital
paulista fazer uma pesquisa de mercado. O
empresário mostrou dois modelos que
produziu para cem pessoas e perguntou se
elas usariam um deles: 99 disseram que sim e
uma disse que talvez.
Para finalmente colocar seus planos em
prática, faltava algo importante: o capital
para iniciar a produção. O recurso, no
entanto, veio de forma inesperada. Após 18
anos como motorista de ônibus na mesma
empresa, Pena foi demitido.
O dinheiro da rescisão, cerca de R$ 12 mil,
foi investido na compra de uma tonelada de
borracha colorida e uma máquina de corte
para começar a produção dos chinelos
quadrados nos fundos de sua casa, na Zona
Leste de São Paulo.
O espaço tinha 15 m². Um ano depois, a
empresa ocupa um galpão alugado de 150 m²,
com escritório e loja de fábrica, aberta
apenas para lojistas com interesse em
revender os chinelos.
"Estamos estudando a possibilidade de abrir
uma loja para venda direta ao consumidor.
Mas, no momento, ainda não temos
capacidade de produção para isso", declara
Pena.
Mensalmente, a Kuatro Kantos produz 800
pares de chinelos e fatura R$ 20 mil. O preço
de revenda para o consumidor final varia de
R$ 25 a R$ 70. A empresa não divulga o valor
de venda para lojistas.
Produção de calçados tem baixo
crescimento
A produção de calçados no Brasil se mantém
estável desde 2010, quando faturou R$ 21,7
bilhões, segundo a Abicalçados (Associação
Brasileira das Indústrias de Calçados).
No ano seguinte, a alta registrada foi de
apenas 0,5% (R$ 21,8 bilhões). Os dados de
2012 não foram consolidados, mas a
expectativa da entidade é que o valor não
sofra grandes alterações.
Para o presidente executivo da Abicalçados,
Heitor Klein, o baixo crescimento é reflexo
das importações de calçados, principalmente
da Ásia, que estão ganhando o mercado
nacional.
"As exportações brasileiras vêm caindo desde
2010 ao passo que a importação sobe
continuamente. O Brasil perdeu muito da
competitividade no mercado internacional",
afirma.
Produto precisa de diferencial
Investir em produtos diferenciados, como faz
a Kuatro Kantos, é uma alternativa para
competir com os calçados asiáticos, de
acordo com o consultor especializado no
setor calçadista, Luís José Coelho.
"O empresário brasileiro tem de se
diferenciar, fazer o que eles [os asiáticos] não
fazem", diz.
No entanto, é preciso tomar cuidado com
qual será o diferencial da marca. Apesar de
ter uma estética atraente, Coelho diz que um
chinelo quadrado pode, eventualmente,
atrapalhar o caminhar de quem o utiliza.
"A inovação por si só não garante o sucesso
do produto. É preciso fazer testes, pesquisa
de mercado, definir um público-alvo e
perguntar se as pessoas estão dispostas a
comprar aquela mercadoria", declara o
consultor.
Para o diretor do programa de gestão do luxo
da Faap (Fundação Armando Álvares
Penteado), Silvio Passarelli, as empresas
tendem a investir mais em produtos
diferentes e com estética atraente.
"O século 21 será o século da estética. As
pessoas vão procurar cada vez mais produtos
que as deixem belas e diferentes das demais.
Quem souber aproveitar esse momento estará
à frente da concorrência", declara.

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