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domingo, 19 de agosto de 2012
Nos 50 anos do seu programa, Silvio Santos perde a vergonha e as calças
Para alguém conhecido, no início da carreira, como
"o peru que fala", graças à vermelhidão causada pela
timidez diante do auditório, Silvio Santos passou por
uma notável transformação nos 50 anos à frente do
programa que leva seu nome. Hoje, está totalmente
sem vergonha.
Mestre do 'stand-up', Silvio Santos ri de si mesmo
atrás de ibope
Só nos últimos meses, perdeu as calças no ar (e
deixou a cena ser exibida), constrangeu convidados
com comentários irônicos e maldosos e vem falando
palavrões e piadas sexuais em seu programa. Está,
como se diz na gíria, "soltinho" aos 81 anos.
O baú do Silvio
A postura tem surpreendido não só as "colegas de
auditório", os convidados e os espectadores, mas
seus próprios funcionários. Tem também reavivado o
status de ícone para a geração das redes sociais, que
replicam vídeos com seus "melhores momentos"
pela internet.
"Acho que o Silvio Santos nunca atravessou uma fase
tão despojada, tão à vontade. Até me assustei um
pouco", diz o apresentador Luis Ricardo Monteiro,
que, há mais de 30 anos no SBT, precisou lidar
recentemente com o patrão detonando no ar os
produtos que tentava vender.
Para Monteiro, após superar "os problemas que o
grupo [Silvio Santos] teve" --fraude no Banco
PanAmericano em 2010 e venda do Baú da Felicidade
em 2011--, o empresário "soltou as amarras". O
momento atual se assemelharia, diz ele, aos
primórdios do SBT, quando Silvio tinha "um papo
reto".
"Ele falava 'olha, podem assistir à novela da Globo,
depois começo o filme aqui no SBT'. Era mais solto e,
ao longo do tempo, como presidente da emissora,
foi se engessando um pouquinho."
AUDIÊNCIA
Segundo Monteiro, a fase atual "está chocando", mas
também "dando muito resultado" no ibope --de fato,
a audiência do programa dominical e do canal como
um todo voltaram a crescer, após um período de
perda da vice-liderança para a Record.
"Sinceramente, acho que ele está gagá. Mas falo isso
com carinho, assim como falo da minha avozinha",
diz o apresentador Marcelo Tas, que vem destacando
episódios pitorescos do dono do SBT no "Top 5" de
seu programa "CQC", na Band.
"O importante é ele continuar rindo dele mesmo.
Faço questão de falar dele com carinho, porque
todos vamos chegar aí. A diferença é que ele é o
Silvio Santos, o dono do canal, então ninguém vai
dizer para ele não fazer as coisas que tem feito."
Nem todos atribuem a fase a uma suposta
senilidade.
"Velho ele é faz tempo", diz a atriz Lívia Andrade, a
atual professora Suzana de "Carrossel" (SBT), com o
mesmo humor que usou para reagir à frase de Silvio
de que "gato escaldado... morre, porra", num jogo de
que ela participava ("Interna!", reagiu).
"Ele continua o mesmo, não tem nada a ver com a
idade, mas com o momento da TV, dos programas
de humor, da aceitação do público. Palavrão, piada
apimentada não são mais tão chocantes, as pessoas
gostam."
Essa visão de que a nova fase de SS seria uma
adaptação ao humor mais chulo que a TV importou
da comédia "stand-up" é compartilhada por outros
funcionários do SBT. "O Silvio Santos acompanha a
onda, a modernidade. Não posso falar 'pô, Silvio,
você está pegando pesado', porque isso é uma coisa
tão normal hoje, é moda", diz Ailton Lima, o Liminha,
47, assistente de palco do "patrão" há mais de 20
anos.
Nem tudo tem sido sorrisos na nova fase: SS, que
sempre lidou bem com os incontáveis humoristas
que o imitam, resolveu, em maio, processar a trupe
do programa "Pânico", da Band, impedindo-a de
imitá-lo e de se aproximar dele.
Lívia Andrade diz que a atitude teve lógica comercial.
"Tudo tem limite. É burrice dar audiência a outra
emissora que está no ar na mesma hora do seu
programa."
O fato é que nem as polêmicas nem as atitudes mais
grosseiras da nova fase parecem atingir a imagem de
SS.
Para Tas, isso se explica pelo extenso crédito
acumulado pelo apresentador em suas décadas de
TV, que compensam "esses escorregões":
"Ele sempre fez esse entretenimento da família, do
domingo, despretensioso. É como diz a música dele,
'do mundo não se leva nada/ vamos sorrir e cantar'.
Ele está vivendo isso plenamente."
*
O BAÚ DO SILVIO
Momentos marcantes da trajetória do empresário e
apresentador
1930 - Senor Abravanel nasce em 2 de dezembro, no
bairro da Lapa, no centro do Rio; filho do grego
Alberto Abravanel e da turca Rebeca Caro, teve cinco
irmãos
1946 - Em ano de eleição presidencial, torna-se
camelô, vendendo capas para títulos de eleitor
canetas e outras bugigangas no Rio. "Trabalhava das
onze ao meio-dia, horário em que o guarda ia
almoçar. Eu tinha realmente poder de comunicação.
Daí em diante, nunca mais me faltou dinheiro", disse
Silvio em sua biografia
1948 - Começa a trabalhar como locutor em rádios,
mas deixa o emprego para ganhar mais dinheiro
montando um sistema de alto-falantes nas barcas do
Rio, onde vende anúncios publicitários; cria também
um bar e um bingo nas embarcações
1954 - Já em São Paulo, assina seu primeiro contrato,
como locutor da Rádio Nacional; o salário baixo o
leva a lançar uma revista de passatempos
("Brincadeiras para Você"), para vender anúncios, e a
se tornar animador em shows de circo e comícios
1958 - Manoel de Nóbrega lhe repassa o Baú da
Felicidade, então em dificuldades financeiras; Silvio
transformaria a empresa em uma lucrativa cadeia de
127 lojas que chegou a faturar R$ 400 milhões por
ano e que foi vendida em 2011 ao Magazine Luiza
(por R$ 83 milhões), após as dificuldades financeiras
causadas pelo fraude em outro de seus negócios, o
Banco Panamericano, que causou um rombo de R$
4,3 milhões
1962 - Estreia como apresentador de TV com o
programa "Vamos Brincar de Forca", na TV Paulista e
lança o dominical "Programa Silvio Santos"; no
mesmo ano, casa-se com Cidinha, com quem teria as
filhas Cíntia e Silvia; sua mulher morreria em 1977,
vítima de um câncer
1975 - Em outubro, vence a concorrência do governo
Ernesto Geisel para aquisição do Canal 11, do Rio de
Janeiro; em maio do ano seguinte entra no ar a TVS
(Studio Silvio Santos Cinema e Televisão Ltda.); por
um período, apresentaria o "Programa Silvio Santos"
simultaneamente nas TVs Tupi e Record, em São
Paulo, e na TVS, no Rio
1981 - Casa-se com Iris Pássaro, funcionária do Baú
da Felicidade; o casal teve quatro filhas: Daniela,
Patrícia, Rebeca e Renata. Em março, ganha do
presidente João Figueiredo a concessão de quatro
canais; em agosto, nascia o SBT (Sistema Brasileiro de
Televisão)
1989 - Sai candidato à presidência da República pelo
nanico PMB, mas a inexistência legal do partido e o
exercício patronal dentro de uma rede de televisão o
impediram de se candidatar. No ano seguinte, é
convidado a concorrer ao governo de SP, mas
desiste; em 2002, volta a ser considerado como
candidato a presidente, pelo PFL (hoje DEM), mas
não chega a concorrer
2001 - É tema do desfile da escola de samba
Tradição, no Carnaval do Rio; em agosto, sua filha
Patrícia Abravanel é sequestrada e passa sete dias em
cativeiro; é libertada após o pagamento de resgate
de R$ 500 mil, mas dias depois um dos
sequestradores invade a casa do apresentador em
São Paulo e o mantém como refém por sete horas,
até se entregar. No mesmo ano, lança o primeiro
"reality show" brasileiro, "Casa dos Artistas", que bate
recordes de audiência
2010 - Chega aos 80 anos no ponto mais baixo de
sua carreira: o Banco Central identifica fraudes
contábeis que geraram um rombo de R$ 4,3 bilhões
em seu Banco PanAmericano; a instituição é vendida
para o BTG Pactual por R$ 450 milhões e a Polícia
Federal indicia 22 pessoas, incluindo cinco ex-
diretores e um ex-presidente do Grupo Silvio Santos,
sob a acusação de formação de quadrilha, lavagem
de dinheiro, gestão fraudulenta, "caixa dois" e outros
crimes financeiros
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