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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Oscar Niemeyer, expoente internacional da arquitetura moderna, morre aos 104



O arquiteto Oscar

Niemeyer, ícone da

arquitetura moderna e

um dos brasileiros mais

reconhecidos no mundo,

morreu nesta quarta-

feira (5), aos 104 anos.

Ele estava internado há

33 dias no Hospital

Samaritano, em

Botafogo, zona sul do Rio

de Janeiro, por causa de

uma infecção urinária.

Ele também teve uma

infecção respiratória e

respirava com a ajuda de

aparelhos.

Niemeyer foi um dos

principais expoentes da

arquitetura moderna e

projetou o Brasil

internacionalmente. O

carioca ganhou

reconhecimento a partir

da exploração das

possibilidades plásticas e

construtivas do concreto

armado, produzindo

obras grandiosas e

inventivas, marcadas

pelo abuso de curvas em

detrimento das linhas e

ângulos retos.

Suas obras --prédios

públicos e privados,

monumentos, esculturas

e igrejas-- marcam a

paisagem das principais

cidades brasileiras e

espalham-se por vários

países do mundo, como

Estados Unidos, França,

Espanha, Alemanha,

Itália, Argélia, Israel

e Cuba, entre outros.

Niemeyer projetou

grande parte das obras

de Brasília, entre elas a

praça dos Três Poderes,

os prédios do Congresso

Nacional, do STF

(Supremo Tribunal

Federal) e o Palácio do

Planalto.

Em São Paulo, projetou o

Memorial da América

Latina, o edifício Copan

e as construções do

Parque do Ibirapuera; no

Rio, concebeu o Museu

de Arte Contemporânea

de Niterói e a Marquês

de Sapucaí; em Belo

Horizonte, projetou todo

o Conjunto Arquitetônico

da Pampulha.

Gostava de

desenhar, e o desenho

levou-me à arquitetura.

Lembro-me que ficava

com o dedo no ar

desenhando. Minha mãe

perguntava: 'o que está

fazendo menino?'

'Desenhando', respondia

com a maior

naturalidade.

O arquiteto desenhou

também esculturas e

mobílias, escreveu livros

e, depois do centenário,

lançou até um disco de

samba. Marxista

convicto, militou no PCB

(Partido Comunista

Brasileiro) durante várias

décadas, mudou-se para

a França durante a

ditadura militar e

manteve amizade com

Luís Carlos Prestes e

Fidel Castro.

Juventude e começo da

carreira

Niemeyer nasce em 15

de dezembro de 1907 no

Rio, filho de Oscar

Niemeyer Soares e

Delfina Ribeiro da

Almeida. Sua família

tinha ascendência

portuguesa, árabe e

alemã. Cresceu no bairro

de Laranjeiras, onde se

casou com Annita Baldo

em 1928.

Em 1929, iniciou os

estudos na Escola

Nacional de Belas Artes,

dirigida pelo também

arquiteto Lucio Costa,

com quem Niemeyer

começou a trabalhar em

1932.

“Gostava de desenhar, e

o desenho levou-me à

arquitetura. Lembro-me

que ficava com o dedo

no ar desenhando.

Minha mãe perguntava:

'o que está fazendo

menino?' 'Desenhando',

respondia com a maior

naturalidade. Realmente,

fazia formas no espaço,

formas que guardava de

memória, corrigia e

ampliava, como se as

tivesse mesmo a

desenhar”, afirmou o

arquiteto, em declaração

publicada na página do

Instituto Oscar

Niemeyer.

Em 1934, obteve diploma

de engenheiro e

arquiteto. Dois anos

depois, conheceu o

arquiteto modernista Le

Corbusier. A obra do

francês o influenciou de

forma decisiva.

Viajou aos Estados

Unidos em 1938 e

elaborou o projeto do

Pavilhão do Brasil na

Feira Mundial de Nova

York.

Em 1945, ingressou no

PCB e iniciou sua

amizade com Prestes, a

quem na velhice ajudaria

a sustentar. "Fui sempre

um revoltado. Da família

católica eu esquecera os

velhos preconceitos, e o

mundo parecia-me

injusto, inaceitável. A

miséria a se multiplicar

como se fosse coisa

natural e aceitável.

Entrei para o Partido

Comunista abraçado pelo

pensamento de Marx."

Regressou a Nova York

em 1947, onde

participou, ao lado de

arquitetos do mundo

todo, do projeto da sede

da ONU (Organização

das Nações Unidas).

Em 1950, foi publicada a

obra “The Work of Oscar

Niemeyer” (“O Trabalho

de Oscar Niemeyer”), do

arquiteto e historiador

grego Stamo Papadaki,

que ajudou a divulgar o

arquitetura de Niemeyer

no exterior.

Fui sempre um

revoltado. Da família

católica eu esquecera os

velhos preconceitos, e o

mundo parecia-me

injusto, inaceitável. A

miséria a se multiplicar

como se fosse coisa

natural e aceitável.

Entrei para o Partido

Comunista abraçado pelo

pensamento de Marx

Em 1954, fez sua

primeira viagem à

Europa, onde conheceu

França, Itália, Alemanha,

República Tcheca e a

União Soviética.

No ano seguinte, fundou

a revista "Módulo", que

circulou, em edições

mensais, até 1965,

quando sua publicação

foi interrompida pelo

governo militar –a

revista foi retomada em

1975 e editada até 1987.

Brasília e golpe militar

Em 1956, Niemeyer foi

convidado pelo

presidente e amigo

Juscelino Kubitschek para

projetar a nova capital

do país e organizar o

concurso para a escolha

do plano piloto, vencido

por Lucio Costa. Dois

anos depois, Niemeyer

mudou-se para Brasília.

“E ali ficamos durante

vários anos. Longe de

tudo. Cobertos dessa

poeira vermelha que

durante os períodos de

seca se incrustava na

pele e, na estação das

chuvas, paralisados pelas

águas torrenciais que

caíam sem controle

sobre essa terra sem

defesa.”

Em 1962, foi nomeado

coordenador da Escola de

Arquitetura da recém-

fundada UnB

(Universidade de

Brasília), após convite do

reitor Darcy Ribeiro. No

ano seguinte, ganhou o

Prêmio Lênin da Paz,

concedido pela União

Soviética.

Em 1964, quando estava

em Lisboa, recebeu

a notícia do golpe que

instaurou a ditadura

militar. Retornou ao país

no final do ano, após

passagem por Israel.

“Levei um grande susto

com a notícia do golpe.

Durante três dias, não

descolava o ouvido do

rádio, na expectativa de

uma boa notícia

qualquer. Nada se

passava e nós estávamos

aflitos, temendo um

novo período de

opressão e

obscurantismo. Foi em

abril de 1964”, recordou

Niemeyer.

Em 1965, demitiu-se da

UnB assim como outros

200 professores, em

protesto contra a

influência militar na

universidade. Na época,

a sede da revista

"Módulo" foi

parcialmente destruída,

e o escritório de

Niemeyer, saqueado.

Vida no exterior

No ano seguinte,

Niemeyer viajou a Paris

para acompanhar

exposição da sua obra no

Museu do Louvre. Dois

anos depois, impedido de

trabalhar no Brasil e

depois de os militares

embargarem seu projeto

para o aeroporto de

Brasília, mudou-se para

a capital francesa.

Em 1968, mudou-se para

a Argélia para dedicar-se

a vários projetos, a

convite do presidente do

Conselho Revolucionário

Argelino, Houari

Boumediène, líder da

independência do país.

Quatro anos depois,

Niemeyer voltou a Paris,

abrindo um escritório na

famosa avenida Champs-

Élysées.

No ano de 1975,

publicou, em Milão, na

Itália, seu primeiro livro

(“Oscar Niemeyer”), que

traz uma retrospectiva

de sua obra e trajetória.

Em 1978, de volta ao

Brasil, participou da

fundação e foi eleito

presidente do Cebrade

(Centro Brasil

Democrático). Em 1988,

recebeu o Prêmio

Pritzker de arquitetura,

e, no ano seguinte, foi

condecorado na Espanha

com o prêmio Príncipe

de Astúrias.

Levei um grande

susto com a notícia do

golpe [militar no Brasil].

Durante três dias, não

descolava o ouvido do

rádio, na expectativa de

uma boa notícia

qualquer. Nada se

passava e nós estávamos

aflitos, temendo um

novo período de

opressão e

obscurantismo. Foi em

abril de 1964

Na década de 90,

Niemeyer foi premiado

com a medalha do

Colégio de Arquitetos de

Catalunha (em 90), com

o Prêmio Leão de Ouro

da Bienal de Veneza (em

96) e com a tradicional

Royal Gold Medal (em

98), concedida pelo

Instituto Real dos

Arquitetos Britânicos. No

mesmo ano, publicou um

livro de memórias: “As

Curvas do Tempo”. Em

1999, lançou sua

primeira obra de ficção,

“Diante do Nada”.

Últimos anos

A mulher do arquiteto,

Annita, morreu em 2004;

dois anos depois,

Niemeyer casou-se com

Vera Lúcia, que era sua

secretária.

Em 2007, ao completar

cem anos de idade,

Niemeyer recebeu

diversas homenagens e

foi tema de muitas

exposições e eventos. No

ano seguinte, fundou no

Rio a revista “Nosso

Caminho”. Dois anos

depois, aventurou-se no

mundo da música, com o

disco de samba de raiz

“Tranquilo com a Vida”,

gravado em parceria com

seu enfermeiro Caio

Almeida e com o músico

Edu Krieger.

Também em 2008 foi

inaugurada uma

escultura do brasileiro

em homenagem ao povo

cubano na Universidade

de Ciências Informáticas

de Havana; um presente

de Niemeyer ao líder

Fidel Castro.

Em 25 de março de

2011 foi inaugurado em

Avilés, na Espanha, o

Centro Cultural Oscar

Niemeyer, mas o espaço

foi fechado nove meses

depois, por determinação

do governador da

província. O fechamento

irritou Niemeyer e

provocou protestos na

cidade.

No dia 8 de fevereiro de

2012, em sua última

grande aparição em

público, o arquiteto

acompanhou a

inauguração do

sambódromo do Rio, que

havia passado por

reformas de ampliação e

adequação da obra ao

projeto original.

Na ocasião, Niemeyer foi

aplaudido por operários

da obra e agradeceu:

"Estou muito feliz. Essa

obra não é só minha, é

do grupo que trabalha

comigo. Estou muito

contente e entusiasmado

em ver um trabalho

como esse, que foi feito

para alegrar o povo."

Niemeyer deixa uma

filha netos, bisnetos e

trinetos. Sua filha, Anna

Maria, morreu em junho,

aos 82 anos, por

complicações decorrentes

de um enfisema

pulmonar.

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