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quinta-feira, 22 de março de 2012

Paulo Bonfá: "brasileiro tem mania de tratar humor como uma série b"

Em entrevista ao Terra, humorista de 40 anos falou sobre o festival Risadaria e sobre limites na comédia . Foto: DivulgaçãoTrês anos, três edições. A fórmula do Risadaria parece ter funcionado com os paulistanos. A terceira edição do evento, que neste ano homenageia o eterno Trapalhão Renato Aragão, começa nesta quinta-feira (22), na Bienal do Ibirapuera, e traz ao público um apanhado geral do humor brasileiro em todas as plataformas durante quatro dias: stand up, TV, cinema, teatro, literatura, histórias em quadrinhos, enfim, tudo aquilo pautado no gênero no passado, presente e futuro.

Apesar de parecer ser um nicho que tem ganhado força mesmo nos últimos anos, especialmente com o boom dos comediantes de stand up no País, para o idealizador do projeto, Paulo Bonfá, a popularidade sempre esteve aqui, com a exceção de que antes o humor era visto como algo menor no meio das artes. "O público consome e sempre consumiu. Está em nosso DNA. Mas o brasileiro tem mania de tratar humor como uma série b", disse em entrevista aoTerra. "O cara fala: 'tenho um amigo que conta piada e a gente sempre ri'. Ora, isso não é trabalho. Comediantes profissionais sabem que a comédia demanda persistência, informação e formação."

Com a temática das Olimpíadas em foco - sob o slogan "A maratona mais engraçada de todos os tempos" -, o Risadaria 2012 vai trazer uma série de novidades para seu já formado público fiel, além dos programas que fizeram a fama do festival, como os "encontros gozados", nos quais artistas sobem ao palco do teatro para fazer humor coletivo. Neste último, destacam-se as presenças do português Ricardo Araújo Pereira e do mímico norte-americano Billy The Mime, que dividirão o espaço com figurinhas carimbadas do evento, como Rafinha Bastos, Marcelo Adnet, Dani Calabresa, Danilo Gentili, entre outros.

Além disso, depois de homenagear Chico Anysio, em 2010, e Jô Soares, em 2011, o festival presta reverência a outro grande nome do humor nacional neste ano: Renato Aragão, que recebeu um troféu de rapadura na abertura do evento, na quarta-feira (21), quando cortou sua fita de inauguração. "Ele é um ícone, com uma produção gigantesca tanto em cinema quanto em TV", justificou Bonfá, prometendo diversas novidades para os fãs do fundador da trupe Os Trapalhões, incluindo roupas usadas por ele no programa, pôsteres de seus filmes, troféus e discos de ouro - tudo emprestado do acervo pessoal do comediante, cedido pelo próprio. "Também vamos exibir pela primeira vez no Brasil as três temporadas da trupe em Portugal, que ninguém sequer sabia da existência. O trabalho foi feito entre 1994 e 1997, depois das mortes de Mussum e Zacarias, e traz Didi e Dedé contracenando com atores portugueses e com sotaque lusitano."

Para todos
Outra novidade da edição de 2012 é a criação de um espaço voltado exclusivamente para crianças. Parceria com o canal Nickelodeon, o Risadaria Kids é fruto de observações realizadas pelos organizadores nos anos anteriores, quando foram surpreendidos pelo bom número de pais e avós visitando o festival acompanhados de crianças e pré-adolescentes. Atividades como oficinas, áreas de recorte e cola com monitores e leituras de textos ocorrerão no local, que terá ainda "casa do Bob Esponja", presença de personagens do canal Nickelodeon circulando de um lado para o outro e até uma programação ao vivo dedicada especialmente a esse público, com shows de palhaços, ventríloquos e contadores de piadas.

"Por pressuposto, o Risadaria muda de ano a ano", explica Bonfá sobre as novidades. "Uma pessoa que tenha nos visitado em 2010 ou 2011, ou mesmo nas duas oportunidades, não vai encontrar nada igual ao que viu antes. Tanto em termos físicos e arquitetônicos - de visual e estrutura - quanto nas áreas de conteúdo."

E aí figura o espaço dedicado especialmente aos blogs de humor brasileiros, com as seis principais páginas do gênero no País produzindo e exibindo conteúdo exclusivo, criado especialmente para o evento. "A difusão com a internet é mais rápida, simples, imediata. Além da facilidade tecnológica de produzir e colocar material sem precisar do apoio de um veículo, como TV ou rádio, a web ajudou a dinamizar o mercado. Com os sites é a mesma coisa e, por isso, já não é mais possível deixá-los de lado se quisermos ter realmente todas as plataformas no festival."

Por possuir tantas atrações, Bonfá faz questão de salientar a importância de ir ao Risadaria com calma. "Somos o segundo maior evento do gênero do mundo, só perdendo para o Just for Laughs, que ocorre em Montreal, no Canadá. No entanto, somos o único que traz o humor em todas as suas vertentes. Não existe nada parecido no mundo, então é preciso tempo", justifica, dando a dica: "fizemos uns cálculos e nossa média de visitação ficou em 4h."

Limites do humor
Mesmo com o principal objetivo de divulgar o evento que idealizou, as polêmicas recentes relativas ao gênero - em especial aquela em que Rafinha Bastos fez uma piada de mau gosto com a filha de Wanessa Camargo, no ano passado - não se mostraram tabus para Bonfá. Para ele, o episódio, cujo resultado foi a demissão do humorista da TV Bandeirantes, foi um grande mal entendido, que atingiu proporções desnecessárias.

"Acho que, tanto de um lado quanto de outro, as coisas poderiam ter sido resolvidas de outra forma. O Rafinha é um sujeito super talentoso, que talvez tenha se excedido um pouco. Mas todo mundo erra", opina. "O lance é que ele poderia ter falado, 'ah, eu errei aqui', e beleza, teria resolvido. Mesmo assim, ao meu ver, isso não teve uma influência prática para o bem ou para o mal".

O caso virou polêmica e acabou mobilizando a classe humorística e seus detratores a debates acalorados sobre os limites do humor - Bastos chegou a ser xingado por colegas do meio. Entretanto, Bonfá prefere analisar o tema de forma mais simples e pessoal: "o limite do humor é, basicamente, o limite do bom senso e do consenso. Isso significa que não pode haver uma lei, uma entidade ou um governo que decida quem pode falar o quê", analisa.

"Não pode haver censura prévia, pois o limite é dado por quem consome e por quem faz. Se alguém se sentir ofendido, sempre vai caber uma reparação. Não é possível, no entanto, proibir antes disso, pois assim cairíamos num exercício de futurologia indesejado."

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