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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Motorista que reconheceu e imobilizou bandido do ônibus conta que agiu por impulso

- Foi pelo retrovisor que o motorista do ônibus onde foi preso Paulo
Roberto da Silva Dias - acusado de estuprar uma menina de 12 anos
dentro de outro coletivo que passava pelo Jardim Botânico este mês -
viu o bandido apontando um dos dedos para uma vítima que acabara de
assaltar. Sem conseguir localizar carros da polícia, o motorista conta
que agiu no impulso ao pular a roleta e imobilizar o ladrão. Mesmo
ameaçados de morte, ele e o trocador não pensaram duas vezes.- Não sou
herói. O Super-Homem é que é um herói. Tomei a atitude de ir para cima
dele no impulso. Acho injusto uma pessoa ser roubada. Eu já tinha
marcado o rosto do bandido quando ele entrou porque tinha roubado uma
moça dias antes no ônibus que eu dirigia - frisou o motorista,
lembrando que ele e o trocador só desconfiaram que o ladrão podia ser
Paulo Roberto Dias depois de ele já estar imobilizado: - Naquela hora,
lembrei do cartaz com o rosto dele, colado na minha empresa.

O motorista, de 46 anos, que pediu para não ter o nome revelado, não
se intimidou em reagir.

- Tentei encontrar os carros da PM que ficam perto do Jockey, mas não
estavam lá. Então pensei: "vai ter que ser comigo mesmo". Pulei a
roleta e fui para cima dele. Puxei pela camisa que rasgou, e ele
tentou dar um mergulho pulando a roleta, mas o trocador o segurou pela
calça. Colocamos o bandido no banco e prendi as pernas dele com as
minhas. Ele dizia que ia matar a gente. Tivemos que bater nele.

Depois de segurar o bandido no ônibus, que tinha cerca de 15
passageiros, o motorista gritou para que pedestres chamassem a
polícia. Em seguida, um policial apareceu, algemou o bandido e o levou
para 15 DP (Gávea).

Motorista há sete anos, o homem que prendeu Paulo Roberto Dias já
havia reagido a outros dois assaltos. Num deles, na década de 80,
quando era trocador, tomou a arma do bandido que tentava roubar seu
caixa. O caso mais recente foi há três anos. Na ocasião, ele percebeu
um homem roubando carteiras. Parou o ônibus próximo de PMs e o bandido
foi preso.

- Fiz um curso de vigilante noturno. Trabalhei quase três anos nessa
área e aprendi, por exemplo, como tomar a arma de uma pessoa.

Casado há 23 anos, natural de Recife, e morador de Duque de Caxias, o
motorista é pai de dois filhos, de 10 e 22 anos. Ao saber do estupro
da menina de 12 anos, ele se revoltou:

- Se eu tivesse uma filha e acontecesse isso com ela, iria correr dia
e noite atrás desse bandido. Ia querer colocar a mão nele. No dia em
que ele foi preso, deitei com a cabeça no travesseiro e dormi
aliviado.

Tímido e com a fala mansa, o motorista se considera uma pessoa calma,
mas conta que também fica nervoso. Nestes momentos, faz um exercício
que aprendeu na empresa onde trabalha, a Viação São Silvestre:

- Respiro fundo, esvazio o cérebro e solto o ar. Adoro dirigir, esse
sempre foi meu sonho desde criança.

Antes de conseguir o emprego como motorista, ele passou 12 anos
desempregado. Neste período, para sustentar a família, fez de tudo:
foi pedreiro, eletricista, vigia e balconista. Sem dinheiro, precisou
vender seu Opala por R$ 200 para um ferro-velho.

A proeza do motorista que prendeu o estuprador deixou orgulhosos os
seus colegas de trabalho. Ontem, muitos deles davam os parabéns e o
chamavam de herói. Ele, porém, apenas sorria.

- Ele foi um cara valente. Faria o mesmo se fosse comigo. É gente boa,
mas tem o defeito de ser pão duro - brincou o motorista Luiz Henrique
Rocha, de 43.

Com a rotina de trabalho puxada, o motorista que prefere não ser
chamado de herói sai de casa às 3h45m e volta às 21h. Nos momentos de
lazer, gosta de ir à praia e de ver novela. Ao contrário da maioria
dos homens, não torce para nenhum time de futebol: "Sou daquele que
ganha".

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